O infarto é uma das principais causas de morte no mundo. Em 2020, foi a causa mortis de 130 mil brasileiros segundo levantamento realizado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em parceria com o Ministério da Saúde.
Quando um paciente dá entrada em um hospital com suspeita de infarto, o médico efetua o diagnóstico utilizando como base o histórico clínico, o resultado do exame de eletrocardiograma (ECG) e da troponina, marcador bioquímico liberado quando ocorre a lesão no miocárdio. Porém, a doença pode levar à morte rapidamente e o resultado da troponina demanda hoje mais de uma hora para ser disponibilizado, o que aumenta em muito o risco de óbito ou o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
“Há alguns anos, com fortes dores no peito, passei por todo esse longo e agonizante processo. No final era apenas estresse, mas a experiência me fez pensar se não seria possível desenvolver uma solução capaz de efetuar a leitura da troponina de forma mais rápida e precisa. Muitas vidas poderiam ser salvas se o processo pudesse ser agilizado”, relembra Raul de Macedo, founder e CEO da startup Cor.Sync.
Engenheiro biomédico e mecatrônico pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ele transformou sua pesquisa de mestrado na Cor.Sync, uma solução completa de auxílio ao diagnóstico de infarto no atendimento de emergência hospitalar. Ela é integrada por um dispositivo point of care capaz de entregar resultados de troponina com precisão laboratorial em menos de 10 minutos e uma plataforma de auxílio à decisão clínica. A startup acaba de ser aprovada no edital Tecnologias 4.0 da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), no edital Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ser aceita para aceleração no Programa IA² MCTI.
“O Brasil é um celeiro de grandes ideias, mas muitas infelizmente acabam engavetadas. É muito importante e gratificante para nós ver uma ideia que nasceu na academia se materializar em um negócio inovador e capaz de efetivamente salvar vidas com o apoio de nossos programas”, Rayanny Nunes, gerente de inovação da Softex.
O processo desenvolvido pela Cor.Sync é muito ágil: uma gota de sangue é colocada em um biossensor. Em oito minutos, sem necessidade de envio a um laboratório ou uso de centrífuga, o dispositivo realiza a análise da troponina e um algoritmo fornece a probabilidade de o caso ser um infarto.
“O ponto de partida de toda essa nossa jornada teve início em 2019, quando fomos escolhidos para aceleração pelo Programa Conecta Startup Brasil, gerenciado pela Softex. Foi um divisor de águas que nos permitiu validar em campo a solução, agregar valor a ela e ainda garantir dedicação exclusiva ao desenvolvimento de um produto de alta complexidade científica”, destaca o CEO da Cor.Sync.
Foi durante o processo de teste de campo demandado pelo Conecta Startup Brasil que a equipe da Cor.Sync identificou que, além de medir a troponina, existia a necessidade de entender como interpretar o resultado. “Acabamos desenvolvendo um software que pega o resultado do exame da tropinina e cruza com os dados básicos do paciente usando inteligência artificial para fornecer o auxílio à decisão clínica”, explica Raul de Macedo.
Raul de Macedo, founder e CEO da startup Cor.Sync
Em fase de testes de validação clínica, a ideia da Cor.Sync é fornecer o dispositivo em comodato para os hospitais interessados com a cobrança de uma taxa mensal de assinatura e um consumível para cada teste.
“Queremos ser a Nespresso dos diagnósticos. Estamos falando de um universo potencial de 8 mil hospitais com emergência que realizam 7 milhões de atendimentos e apenas 1 milhão de testes de troponina por ano. Queremos elevar esse número e assim ajudar a salvar vidas. Em 2022, esperamos que o Cor.Sync esteja ofertado em 100 hospitais no Brasil e, em 2023, em 1.000”, conclui Raul de Macedo.