Uma pesquisa recente realizada pelo Slack revela que quase metade dos trabalhadores brasileiros entrevistados (48%) se sente desconfortável em admitir para os chefes que utilizam inteligência artificial (IA) em atividades cotidianas do trabalho. Esse sentimento é motivado principalmente pelo receio de serem vistos como trapaceiros (47%), incompetentes (46%) ou preguiçosos (46%).
O estudo, que entrevistou 17.372 profissionais em países como Alemanha, Brasil, Estados Unidos e Japão, mostra que o uso de IA no ambiente de trabalho, apesar de estar em crescimento, ainda é cercado por estigmas e hesitações. Entre os brasileiros, no entanto, o desconforto é um pouco menor, com destaque para a preocupação de perder o emprego como um dos principais motivos de receio ao utilizar IA.
No Brasil, tarefas como a escrita de mensagens para superiores (23%) e para colegas (31%) causam mais apreensão entre os trabalhadores quando o uso de IA é envolvido, embora esses números sejam inferiores aos índices globais, onde 34% dos entrevistados se preocupam com a IA ao redigir para os chefes. O uso da tecnologia para tarefas de baixo risco, como a sumarização de anotações e a programação de código, gera bem menos constrangimento entre os brasileiros, com apenas 5% dos profissionais mencionando a escrita de código como motivo de preocupação, em comparação com os 15% do panorama internacional.
Outro aspecto relevante é o interesse das empresas pela incorporação da IA nas operações. O levantamento do Slack aponta que 99% dos executivos planejam investir em IA, com 97% expressando urgência na implementação dessa tecnologia em suas atividades. Ainda assim, o entusiasmo pela IA entre trabalhadores vem diminuindo. Em agosto de 2024, o percentual de empregados empolgados com o uso de IA caiu para 41%, frente a 47% no levantamento anterior, realizado em março de 2024. Esse declínio reflete uma possível fadiga ou ceticismo diante da crescente dependência das empresas pela tecnologia.
A pesquisa também destaca que o uso de IA no ambiente de trabalho aumentou de 32% para 36% entre março e agosto deste ano. Embora o crescimento global seja notável, ele foi pouco expressivo em países como Estados Unidos (de 32% para 33%) e França (de 31% para 33%), sugerindo um cenário de adoção desigual. No Brasil, o cenário ainda é de aceitação e adaptação, mas os trabalhadores parecem mais relutantes em usar IA nas interações mais diretas, como mensagens a superiores, refletindo um receio cultural de exposição e julgamentos sobre o uso da tecnologia.
Outro ponto interessante é que, apesar de a IA ser adotada com a promessa de liberar tempo dos funcionários, a pesquisa aponta que o tempo economizado com o uso da IA geralmente não é utilizado em atividades mais criativas ou de aprendizado. Em vez disso, os trabalhadores relatam que continuam a utilizar o tempo ganho em tarefas administrativas e na execução de projetos já existentes, sem uma transformação significativa na rotina de trabalho. Esse dado sugere que, embora a IA tenha potencial para inovar o ambiente de trabalho, sua utilização ainda não está sendo plenamente aproveitada para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento profissional dos trabalhadores.
A pesquisa aponta ainda que, no Brasil, o estigma em torno do uso de IA nas tarefas do dia a dia pode estar diminuindo, mas a incerteza em relação ao impacto da tecnologia nas carreiras e na segurança no emprego ainda é um tema latente. A dependência crescente da IA pelas empresas sugere um caminho sem volta, o que levanta questões sobre a necessidade de uma adaptação cultural para que os profissionais se sintam mais à vontade ao adotar essa tecnologia, sem temer julgamentos ou, em última análise, a substituição.
Por Karen Kornilovicz
Agência Softex