Tecnologia: um setor ainda de cuecas  

Prazer, leitoras do Softex Mulher!
É uma honra inaugurar este espaço e compartilhar reflexões sobre um tema que atravessa minha vida e carreira: a presença feminina na tecnologia.  

Comparativo histórico Brasil

PeríodoParticipação feminina no mercado de TILiderança feminina no mercado de TI
1995 – 200015 – 20%<5%
2000 – 201016 – 18%<5%
2010 – 202020 – 25%7-8%
2020 – 202320 – 35% (TI estrito) 37% ( TIC)10-12%
*TIC – funções não estritamente técnicas.

O quadro acima ilustra nossa realidade como mulheres num setor ainda marcado pela predominância masculina.

Aliás, eu sou “TIC” (já que sempre atuei na área de negócios); minha trajetória no setor começou de forma inesperada. Sou formada em Direito, mas logo percebi que não era ali que eu me realizaria. Por acaso, entrei nesse mundo e descobri um setor apaixonante e cheio de oportunidades.

Ao longo de mais de 20 anos, em que fui executiva e, mais recentemente, fundei minha própria empresa, vivi de perto os desafios de ser “a calcinha no meio das cuecas”. E é sobre esses aprendizados que quero falar com vocês.  

O que aprendi sendo “minoria” na tecnologia  

1. Representatividade importa  
Nas primeiras empresas em que atuei, era comum ver equipes inteiras lideradas por homens. Mesmo quando havia mulheres, muitas vezes ocupavam cargos de apoio, e não de decisão. Isso mostra como a falta de referências femininas em posições de liderança impacta a confiança e a ambição de quem está chegando.  

2. O teto de vidro é real  
Vi mulheres extremamente competentes que faziam o trabalho de diretores, mas nunca eram promovidas. Enquanto isso, colegas homens transitavam com mais facilidade para cargos de liderança. Essa desigualdade estrutural ainda é um dos maiores obstáculos para a equidade no setor.  

3. Diversidade não é só discurso  
Algumas empresas tentam equilibrar o número de homens e mulheres, mas esbarram em um problema estrutural: a baixa presença de mulheres em áreas técnicas. Isso mostra que a solução não está apenas nas empresas, mas também na formação, na educação e no incentivo desde cedo para que meninas se vejam como futuras profissionais de tecnologia.  

4. Empreender é também resistir  
Fundar minha própria empresa foi um passo natural, mas também um ato de resistência. Empreender na tecnologia sendo mulher é, muitas vezes, ser uma “LOL Rara” — aquela boneca difícil de encontrar. Mas acredito que cada vez mais precisamos transformar essas raridades em normalidade.  


Caminhos para termos mais mulheres na tecnologia 

✓ Quebrar estereótipos desde cedo: mostrar às meninas que tecnologia não é “coisa de menino”.  

✓ Criar redes de apoio: mentorias, grupos e associações que fortaleçam a presença feminina, que aliás parabenizo a Softex por esse espaço.  

✓ Cobrar equidade real: salários iguais, oportunidades iguais com criação de políticas de inclusão de gênero para fomentarmos o crescimento do percentual de mulheres e promoção baseada em critérios objetivos de performance são alguns dos exemplos.  

A tecnologia continua sendo um setor “de cuecas”, mas juntas podemos mudar esse cenário. Quanto mais mulheres ocuparem espaços de liderança, inovação e decisão, mais rápido transformaremos a realidade.  

Porque o futuro da tecnologia não pode ser construído apenas por um gênero — ele precisa ser plural, inclusivo e humano.  

Fontes: IBGE, Brasscom, Softex e SBC, ONU Mulheres, UNESCO, McKinsey.

Por Samara Valério, CEO da agência de software SV Digital Connections. Especialista em construção de relacionamento e abertura de mercados, atua há 20 anos no mercado de tecnologia. Formada em direito, com pós-graduação em Comunicação pela Escola Superior de Propaganda & Marketing (ESPM) e MBA em Transformação Digital pela FIAP. Mentora do “Elas Exportam” da ApexBrasil.

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