Whitepaper da Softex sugere reposicionamento estratégico do setor de TIC frente à ofensiva tarifária dos EUA

A imposição de tarifas de até 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros de tecnologia, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, colocou o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) nacional em estado de alerta. Trata-se do maior desafio tarifário enfrentado pelo Brasil desde a década de 1940. Para analisar os impactos e sugerir caminhos de resposta, o Observatório Softex lançou o whitepaper “Impactos das Políticas Tributárias Norte-Americanas no Ecossistema Brasilieiro de TIC”, que combina análise geopolítica, modelos econométricos e benchmarks internacionais.

Impactos imediatos e riscos à competitividade

Segundo estimativas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as tarifas podem provocar a perda de até 110 mil empregos no Brasil em um ano — sendo 26 mil apenas na indústria. Empresas exportadoras de tecnologia, especialmente as que dependem de insumos importados e têm baixa verticalização, podem ver seu número de postos de trabalho encolher entre 15% e 25% nos próximos 18 meses. Mesmo as empresas que não exportam diretamente sentirão o impacto, com o aumento do custo de componentes e insumos.

O setor de hardware é apontado como o mais vulnerável, por sua alta dependência de itens como sensores, placas e baterias. Já software e serviços, embora menos expostos a cadeias produtivas físicas, também serão afetados pela retração da demanda e dificuldades de repasse de custos. Estima-se que o custo médio dos insumos suba 14,5%, comprimindo a margem de lucro em até 6,3%. Um exemplo concreto: uma empresa que exporta US$ 10 milhões por ano pode ter um acréscimo tarifário de até US$ 5 milhões (cerca de R$ 27 milhões), inviabilizando seu modelo atual de negócios.

Oportunidades estratégicas em meio à crise

Apesar dos riscos, o estudo aponta que o novo cenário também pode gerar oportunidades. Concorrentes asiáticos, como a China, enfrentam tarifas ainda mais altas — chegando a 125% — no mercado norte-americano. Essa diferença pode posicionar o Brasil como uma alternativa mais viável, desde que os produtos nacionais mantenham uma vantagem de custo relativa. O documento defende que o país aproveite essa janela investindo em diferenciais como neutralidade geopolítica, capacitação da força de trabalho e oferta de produtos de maior valor agregado.

O whitepaper recomenda priorizar segmentos onde o Brasil já possui vantagens competitivas, como software personalizado, agtechs e fintechs. Também sugere maior protagonismo do governo federal em políticas para exportação de software e semicondutores, além de reforçar a diplomacia econômica. Nesse sentido, a diversificação de acordos internacionais, especialmente com a União Europeia, é vista como essencial frente às tensões com os Estados Unidos decorrentes da atuação brasileira em blocos como BRICS e Mercosul.

Para Rayanny Nunes, coordenadora de novos negócios da Softex, “o custo de não agir supera o investimento necessário”. Segundo ela, o Brasil pode transformar a atual neutralidade geopolítica em vantagem estratégica, mas isso exige agilidade, articulação institucional e visão de longo prazo.

O documento do Observatório Softex defende que o país precisa se reposicionar nas cadeias globais de valor com ações articuladas entre governo, setor produtivo e instituições de fomento à inovação. Acesse gratuitamente o conteúdo completo clicando aqui.

Por Karen Kornilovicz
Agência Softex

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