O evento, realizado em São Paulo, foi promovido pela Softex e Oria Capital e trouxe à tona questões sobre como a tecnologia vem desafiando as instituições, empresas e a sociedade, especialmente na América Latina

O B2B Tech Summit reuniu alguns dos maiores especialistas do País no mercado de tecnologia, com discussões que abordaram temas críticos para o setor. Realizado durante a São Paulo Tech Week, ele promoveu a troca de experiências de sucesso, na prática, em temáticas sensíveis, demonstrando como é possível que empresas ampliem a sua competitividade, ao recuperar ou aumentar a produtividade para competir em mercados mundiais.

A cientista política argentina e referência em tecnologia para democracia, Pía Mancini, abriu o B2B Tech Summit com a seguinte provocação: “Somos cidadãos do século 21, vivendo sob modelos de instituições do século 19, criadas com a tecnologia da informação do século 15”.

Transformação Digital

“Quando você cria ilhas de excelência, você gera exemplos de sucesso. E, com exemplos de sucesso, é mais fácil você ter seguidores. É uma forma de fazer com que as pessoas entendam que vale a pena e, portanto, cruzem a ponte para adotar uma nova forma de trabalhar”, defendeu José Luiz Rossi, CEO da Serasa.

O diretor de Inovação da Embraco, Alexandre Veiga, bateu na tecla de que a contratação de jovens empreendedores digitais ainda é o maior desafio das grandes empresas que querem inovar. O CEO Brasil da Cisco, Laércio Albuquerque, citou a necessidade da educação digital para preparação de toda a sociedade: “A tecnologia é apenas o meio. E o ser humano não pode ser perdido de vista”.

Indústria 4.0 e Internet Industrial

“A internet industrial já está funcionando e é acessível, não há um grande impedimento para começar a testar e automatizar parte do trabalho manual”, afirmou José Rizzo, fundador da Pollux e presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial, a respeito da digitalização de fábricas e máquinas conectadas. Ruben Delgado, presidente da Softex acrescentou: “As políticas públicas devem apoiar o salto; com alternativas que contribuam para redução do risco de adoção de novas tecnologia por parte das empresas”. Jorge Steffens, da Oria Capital, afirmou que a adoção da manufatura 4.0 já é uma realidade nos parques industriais nacionais e lembrou o avanço gerado na qualidade de vida dos trabalhadores, principalmente, “com menor exposição atividades de periculosidade e insalubridade”.

Prioridades do CIO brasileiro

Um estudo inédito encomendado pela Softex foi apresentado, demonstrando que apenas uma em cada quatro empresas está nos níveis superiores de maturidade para a Transformação Digital; a maioria ainda não acordou para esta realidade. Na avaliação de Guilherme Amorim, da Softex, todo mundo comenta sobre tema, mas poucos praticam.

Investindo em tecnologia

Piero Rosatelli, da Oria Capital, defendeu que estratégia é essencial para investir em empresas de tecnologia de alto crescimento: “Um dos desafios é criar modelos comerciais agressivos, complementares, criação de canais, políticas de distribuição de software. O capital inteligente e especializado em software faz toda a diferença”.

Internacionalização

“O Brasil é um mercado grande e, muitas vezes, o empreendedor brasileiro se contenta com ele; e não se prepara para o mercado global”, comentou Kleber Stroeh da Icaro Tech, endossado por Roberto Dariva da Navita. Eduardo Bouças, da Cipher, observou, ainda, que certificações e prêmios internacionais fazem a diferença para a decisão do cliente global; e considera o investimento essencial para quem deseja internacionalizar.

É sempre sobre pessoas

A relação academia x negócios foi destacada por João Bernartt, fundador da Chaordic (empresa originada de sua tese de mestrado). “Encontrar essa ponte entre a pesquisa e o setor produtivo é fundamental para a competitividade das empresas e do nosso país”, afirmou. Juliana Glasser, da Carambola.vc, trouxe a perspectiva de inclusão e diversidade, e citou a falta de representatividade de vários aspectos, como etnia, gênero, formação e classe econômica. “As pessoas podem ter um histórico de não ter conseguido se desenvolver até agora, mas não significa que elas não o possam se tiverem uma oportunidade.” Paulo Caputo, da Oria Capital, defendeu que empresas de tecnologia não podem fugir da sua responsabilidade em formar os profissionais que demanda hoje.

Tecnologia em fusões, aquisições e IPOs

“A Transformação Digital está impulsionando as cadeias de M&A de IPO, vertentes fundamentais no plano de expansão das empresas”, concordaram Carlos Testolini e Barbara Raymundo, da Oria Capital. Marcelo Ramires, da Michellin, lembrou que a visão de negócios e técnica são complementares na hora da avaliação de empresas de tecnologia. “Olhar a parte de dados é muito importante, seja para identificar a inteligência que pode ser adquirida instantaneamente, seja como um cuidado de compliance”. Osmar Castellani, do Goldman Sachs, arrematou que é raro que companhias de tecnologia cheguem ao estágio de abertura de capital sem o investimento de fundos especializados e indicou que os investidores estrangeiros continuam com apetite para empresas brasileiras de base tecnológica.

Startups podem atuar como grandes fomentadoras desse processo, que deverá ser dominado por tecnologias emergentes como Blockchain, realidade virtual ou aumentada, Inteligência Artificial (IA), machine learning, robótica e Internet das Coisas (IoT)

Apenas uma em cada quatro empresas no Brasil está nos níveis superiores de maturidade para a Transformação Digital, um tema que continuará em evidência pelos próximos três anos. Essa é uma das conclusões da pesquisa Softex “Prioridades dos Executivos de TIC brasileiros para Transformação Digital” divulgada hoje durante o B2B Summit, evento promovido em parceria pela entidade e a Oria Capital.

O objetivo do levantamento, que envolveu chief executive officers (CIOs) de 101 empresas de todas as regiões do país, foi compreender o comportamento das corporações e dos compradores de tecnologia para saber como eles estão se posicionando frente à Transformação Digital, identificar quais serão os decisores internos para essa transformação, como se dá o relacionamento com os provedores e qual o cenário futuro de absorção de novas tecnologias.

Das companhias entrevistadas, 73,2% admitiram estar iniciando esse processo. “Isso significa que a maioria das empresas brasileiras já se encontra em um nível no qual os gestores estão conscientes da Transformação Digital e compreendendo a sua urgência, mas que ainda não sabem exatamente como realizarão a mudança que poderá fazer a diferença para a competitividade de sua empresa”, explica Guilherme Amorim, gerente-executivo da Softex.

Em relação à motivação para a adoção da Transformação Digital, 44% admitem considerá-la para manter a sua competitividade, 38% para conservar-se na liderança nesta era hiperdigital, 6,9% por pressão de clientes e consumidores, e 1% para otimizar os processos e a qualidade da prestação de serviços. Entre os CIOs ouvidos, 9% não sabem ou não informaram o motivador.

Quanto à intenção de adoção de tecnologias emergentes no curto prazo, em um período de três a 12 meses, os destaques ficaram por conta da Internet das Coisas – IoT (23,8%), Computação em Nuvem (Pública e Privada) e Blockchain, ambas com 19,9%. Ao se ampliar o prazo de previsão de adoção para um ano e meio até três anos, surge com força o emprego da Inteligência Artificial e da Aprendizagem de Máquina (Machine Learning) com 34,7%.

Uma constatação preocupante do levantamento é a de que apenas 4,6% das empresas consultadas entende inovação como algo importante, o que explica o baixíssimo nível de conscientização da oportunidade presente em uma startup: 71,3% das empresas ouvidas afirmou não manter nenhuma relação com uma empresa nascente de base tecnológica.

“Essa é uma tendência que pode e deve ser revertida, pois a Transformação Digital abre um amplo leque de oportunidades para as empresas brasileiras de tecnologia. E, em particular, para as startups que já nascem com um mindset inovador e podem atuar como grandes fomentadoras desse processo”, analisa o executivo da Softex.

Como principal recurso a ser utilizado prioritariamente para apoiar e/ou executar a jornada da Transformação Digital, 56,4% das empresas planejam utilizar recursos internos, 19,8% realizar contratos com empresas de tecnologia e 13,9% contratos com consultorias de negócios. A pesquisa da Softex indica ainda que a área de TI deverá liderar esse processo em 46,5% das companhias ouvidas.

Em 2019, o tema ganhará ainda mais corpo não apenas como estratégia para ampliar a competitividade e a produtividade da economia brasileira, mas porque também passou a contar com o respaldo da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital. Lançada pelo Governo Federal, ela estabelece um conjunto de 100 ações para impulsionar a digitalização de processos produtivos e da sociedade brasileira em um horizonte de quatro anos. Seu objetivo é criar um ambiente para impactos transformadores em agricultura, comércio, educação, finanças, indústria e serviços.

A Transformação Digital é vital para a manutenção da competitividade, não apenas no mercado internacional, mas também no Brasil. “Acreditamos que as empresas de tecnologia devem assumir a vanguarda dessa jornada em seus clientes e nas corporações. Por isso, o nosso esforço em mostrar uma radiografia da agenda do CIO para os próximos anos”, conclui Guilherme Amorim.