O desenvolvimento de políticas públicas para o fomento e o desenvolvimento das TICs é uma função muito relevante do Estado e tem entre seus principais objetivos garantir o bem-estar da população e estimular o crescimento econômico sustentado.
No momento em que o setor de inovação vive um processo de transformação e de expansão sem precedentes, com uma aceleração adicional resultante da pandemia do coronavírus, ganha ainda mais importância o papel do Estado como gerador de iniciativas articuladas a partir de uma leitura precisa das tendências do mercado não só brasileiro como mundial.
É neste contexto que gostaria de relembrar duas importantes políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) em parceria com a Softex que mudaram o cenário nacional de capital de risco e de inteligência artificial (IA).
O primeiro foi o Programa Startup Brasil, lançado em novembro de 2012 com o objetivo apoiar as empresas nascentes de base tecnológica. Ao longo de quase uma década, ele se consolidou como um dos grandes fomentadores e formadores da cultura de investimento de risco no país. Quando de sua criação, muito pouco se falava sobre a viabilidade de se investir em startups com a perspectiva de um excepcional retorno não só financeiro, mas para a sociedade, em termos de inovação.
Após 5 turmas e 229 startups investidas, o portfólio captou um total R$ 855 milhões em recursos junto ao mercado, sendo R$ 42 milhões em investimento público. Números mais do que expressivos, com uma relação em que o investimento público superou o privado em algo próximo a 20 vezes.
Outra importante política pública a ser destacada é o Programa IA² MCTI, focado em startups voltadas ao desenvolvimento de projetos inovadores com a adoção de inteligência artificial, atual paradigma tecnológico. Com apenas seis meses de aceleração e 100 startups no portfólio, o Programa IA² MCTI já possui relação de investimento público e privado da ordem de 3,6 x.
O MCTI aportou R$ 2,5 milhões e as startups já captaram junto ao mercado – incluindo aceleradoras e fundos de investimento – um total de R$ 9 milhões, resultado que o Startup Brasil levou dois anos para alcançar. Dados do MCTI apontam que as startups ligadas a esse programa já aumentaram em 70% o seu faturamento desde o início do ano, despertando interesse entre os investidores. Prova disso foi a recente aquisição da Refinaria de Dados pelo banco digital Modal.
Ambos os programas são exemplos robustos de como políticas públicas bem estruturadas e administradas, compartilhando os riscos com a iniciativa privada, podem trazer expressivos resultados com benefícios que não se limitam somente ao setor onde elas se desenvolvem e que se disseminam pela sociedade como um todo.
Ruben Delgado, presidente da Softex